quinta-feira, 20 de setembro de 2018
Por que você deve ler “Immortal Hulk”
Por Roberto Honorato.
Al Ewing e Joe Bennett seguem os passos de Alan Moore e John Totleben para um possível novo clássico.
Quando Matt Fraction começou com sua fase de Hawkeye (Gavião Arqueiro), não demoraram nem cinco edições e eu já estava elogiando e achando uma das melhores coisas que eu já li pela Marvel.
Isso foi há uns cinco anos, quando ainda estava saindo lá nos EUA, e desde então eu não tive muitos motivos para criar outro texto especulando materiais promissores, e olha que tivemos o Visão, de Tom King, que eu gosto, mas não acho que seja tão bom quanto anunciam, ainda falta um pouco daquela narrativa gráfica mais criativa e arriscada que o próprio King aperfeiçoou “futuramente” na sua fase do Senhor Milagre (esse sim, merece um desses textos).
Voltando ao que eu estava dizendo, tivemos bons materiais das grandes editoras, Marvel e DC (agora o foco será mais nelas, depois entramos nos territórios da Image, Dark Horse e por aí vai), mas nada que me chamasse atenção e merecesse estar em uma matéria com um título como “Por que você deve ler”, isso até eu dar de cara com Immortal Hulk.
Escrita por Al Ewing, com artes de Joe Bennett (e capas de Alex Ross), essa série promete uma abordagem diferente do gigante esmeralda, com uma ambientação muito mais aterrorizante, e não foi à toa que alguns estão comparando essa fase com a clássica de Monstro do Pântano, de Alan Moore e John Totleben, ambas com um protagonista lidando com um dilema existencial, uma atmosfera de mistério que paira por conta da presença destas figuras em qualquer lugar e o rastro de destruição deixado por eles.
Em Immortal Hulk, começamos tudo do jeito que muitos fãs já conhecem, com um Bruce Banner fugindo das autoridades, tentando se esconder entre a multidão e levar uma vida sem conflitos. Vale lembrar que essa história se passa depois dos acontecimentos da saga Guerra Civil II, de Brian Michael Bendis, que, sejamos honestos, foi um desastre.
Aqui, os eventos da saga são brevemente mencionados através da narração de Banner, “certa vez, pedi para um conhecido lançar uma fecha especial direto na minha cabeça. Foi uma situação complexa, vou te poupar dos detalhes”. E depois dessa sutil crítica ao que o personagem passou recentemente, é bom ver como até isso foi bem integrado no enredo desta nova fase, e essa “morte” é utilizada para criar um novo pretexto para Banner deixar de ser o centro das atenções. Infelizmente, isso é quase impossível, já que a criatura verde parece ter uma voz cada vez mais forte em sua relação médico e monstro, relação essa que é retratada aqui com uma mescla de horror e angústia, é como se o Hulk fosse, além de uma maldição, uma assombração. Não é uma ideia inédita, mas aqui é feita com um toque mais “refinado” que o normal.
Tudo começa com um tiro. Um jovem assustado tenta roubar uma loja de conveniências (nada de novo aí), mas acaba puxando o gatilho na hora errada, e além de matar uma adolescente, acerta um homem tentando passar despercebido: Bruce Banner. Tomado pela fúria, Hulk decide resolver tudo com as próprias mãos, e além de tirar satisfação com o jovem e a gangue que o obrigou a fazer o roubo, o gigante atrai a atenção das autoridades e dos noticiários.
Até o momento, a maior parte da trama foca mais na tensão criada pelo personagem e as reações de quem ele atinge do que apenas batalhas exageradas para mostrar o quão forte é. Essa proposta lembra bastante a série clássica da televisão, O Incrível Hulk, estrelada por Bill Bixby e Lou Ferrigno, que você pode acusar de datada o quanto quiser, mas tinha um bom roteiro e empresta um pouco deles para esse novo quadrinho, que não esquece de fazer pequenas referências aqui e ali ao seriado, seja na manchete de um jornal ou na icônica imagem de Bixby caminhando, solitário, pela estrada.
Essa dinâmica forma uma narrativa com possibilidades para coisas incríveis, como a excelente edição #3, formada por depoimentos de pessoas sendo interrogadas pela repórter Jackie Mcgee. Temos um policial, um barman, um padre e uma idosa, cada um mais esquisito, engraçado ou assustador que o outro — aliás, uma decisão criativa bem inteligente foi chamar desenhistas diferentes para ilustrar cada depoimento, como Leonardo Romero e Paul Hornschemeier.
Não se sabe muito sobre o futuro de Immortal Hulk, mas até agora todas as promessas foram cumpridas com êxito, seja no roteiro detalhado de Ewing ou no traço forte de Bennett, que ao lado da arte finalização de Ruy José (ele, assim com Bennett, representa o Brasil lá fora. E isso é algo que eu sempre gosto de mencionar), deixa as coisas mais impactantes visualmente, com peso, mas sem ser grosseiro demais. É a quantidade certa de agressividade que a HQ precisa.
Daqui para frente, espero que a equipe criativa continue se arriscando e trazendo mais histórias com perspectivas diferentes e o embate interno entre Banner e Hulk, que é sempre um aspecto memorável de muitas edições do personagem.
“The Immortal Hulk #1”, capa de Alex Ross. Marvel Comics
Fonte.
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