domingo, 9 de dezembro de 2018
[Stan Lee Apresenta: O Incrível Hulk] - Amigos.
By Bill Mantlo (Argumento) & Alan Kupperberg (Desenhos).
"Não nos deixe! Nós não temos ninguém sem você! Fique! Nós vamos encontrar alguma maneira de te fazer feliz!"
-- Os Pompons Coletivos
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Ele corre às cegas, banhado pela chuva ácida corrosiva. O peso de uma gravidade muitas vezes maior que a da Terra o pressiona. Mesmo assim, ele tenta correr. Um som mais alto que um trovão o persegue, fazendo a fria paisagem rochosa estremecer...
... e não há nenhum lugar para qual o Incrível Hulk possa fugir!
Ainda que prensado contra o solo, o gigante verde golpeia violentamente a colossal criatura. Ele tritura a carne do réptil. Ele esmurra as garras ágeis. Seu rosnado rivaliza o do sáurio. Mas isso de nada adianta, pois o monstro é implacável... e todo seu poder demolidor não consegue deslocar o peso que o esmaga.
Então, quando sua respiração ofegante indicava que seus pulmões entraram em colapso, o sáurio se afasta por livre e espontânea vontade... para se juntar aos demais herbívoros inofensivos que habitam este planeta impiedoso. Afasta-se sem dar maior atenção ao Hulk, como se ele tivesse sido apenas uma formiga sob as patas de um elefante. Uma formiga. Um inseto insignificante. Estranhos termos empregados àquele que já foi considerado o mortal mais poderoso da face da Terra. Mas o Hulk não está na Terra, onde a mais simples demonstração de sua força fazia os mais fortes empalidecerem. Por isso, Hulk não gosta daqui, não gosta do sentimento de absoluto desamparo que o assola.
...e a insatisfação é o necessário para ativar o encantamento místico implantado em algum lugar o cérebro bruto do Hulk... um feitiço criado pelo Doutor Estranho-- o qual é imediatamente ativado quando o Hulk retorna ao lugar que nós chamamos, na falta de um nome melhor, as encruzilhadas!
E que lugar é este chamado ENCRUZILHADA? Um lugar para onde convergem inúmeras realidades. Um lugar perdido no espaço e no tempo. E por que o Incrível Hulk está aqui? O Gigante de Jade foi uma vez homem e fera, o Hulk e o Dr. Banner... com o sacrifício da personalidade de Bruce Banner, o Hulk permaneceu sozinho... mais selvagem, mais irracional que nunca, pois não existem mais resíduos humanos para moderar sua fúria. O Dr. Banner está, para todos os efeitos, morto. Com isso, em vez de permitir que o violento Hulk matasse ou morresse, o Dr. Estranho buscou um encantamento que o removesse da Terra... para uma intersecção dimensional onde interagem infinitas realidades, todas capaz de resistir a seus poderes. Em uma destas dimensões, o gigante verde deverá algum dia encontrar a felicidade.
O Dr. Estranho não abandonou o Hulk à sua própria sorte. Eles implantou um feitiço em seu cérebro bestial que produz efeitos toda vez que ele se sente insatisfeito com um desses mundos... o feitiço faria Hulk retornar à encruzilhada, que ofereceria outros mundos para escolher outras chances de contentamento. O feitiço, entretanto, não permitiria que a criatura voltasse à Terra, o único mundo ao qual seus instintos o impelem a retornar. Não existe isso no mundo das chuvas ácidas. Hulk se aproxima de uma mesa com um farto banquete... e seu olfato aguçado o alerta de que o repasto não é real, mas ilusório. A força do seu sopro espalha o falso banquete como dentes de leão ao vento... enquanto Hulk caminha em direção a outro portal, raivosamente, os esporos se reagrupam... e FALHAM!
Hulk ignora o conjunto de esporos que o atormentam e parecem prazerosos em zombar dele com lembranças que ele anseia, mas que não pode possuir. Hulk tem mais razões do que a fome para tentar outro portal em vez de permanecer na encruzilhada. Esta é fraqueada por troncos de árvores tropicais. A brisa que as sacode revela ao cérebro bruto do monstro a promessa de alimento. Sem olhar para trás, ele transpõe o portal. O portal, como os outros, repele os esporos. O silêncio volta à encruzilhada. Um silêncio apenas perturbado por pequenos seres que coletivamente... CHORAM.
O caminho das encruzilhadas através do porta leva o Hulk para o mundo da selva amazônica, uma floresta de chuva tropical mais exótica que qualquer uma que o golias verde já encontrou na Terra. Não é disso que o Hulk se lembra na Terra... aquela era outra criatura quando ela habitava no mundo de seu nascimento, uma criatura dividida entre duas identidade. Se ele desenhasse uma analogia, isto seria unicamente um nível animal: aromas, vistas e sons pedindo instintivamente lembranças de paz... ou perigo. E se desejo de retornar à Terra é unicamente as inatas urgências da fera desenhando de volta para este terreno desovado.
A fome faz o Hulk avançar, seus sentidos estão todos alerta ao explorar este mundo familiar e, ao mesmo tempo, inusitado. Os raios de sol são filtrados pelas copas das árvores. O solo sob seus pés é rico em matéria orgânica milenar. Tudo transpira vida... e, onde há vida, há comida! Sim, há vida aqui. Vida da qual Hulk pode se alimentar.
Na Terra, Hulk nunca foi visto matando outra criatura para se alimentar. Embora ele fosse o mais temido dos monstros, caçado e perseguido pela humanidade receosa... ele era um gigante dócil que compartilhava uma afinidade com formas de vida inofensivas. Mas esse foi um outro Hulk, numa outra época, num outro lugar. Este Hulk destruirá qualquer coisa para garantir sua sobrevivência. Mas a caça pode esperar. Há um outro tipo de alimento mais ao seu alcance.
A fruta alienígena parece explodir em seus intestinos. As chamas que saem de sua boca são reais. Água... ela extinguirá a ebulição de seu sangue. Mas... se a fruta era venenosa, por que não esperar o mesmo desta lagoa alienígena? Mas Hulk não tem outra escolha.
A noite cai e Hulk ainda vive, mas isso é tudo que pode ser dito dele. Suas entranhas foram lesadas. Várias vezes ficou doente após a ingestão daquela fruta alienígena. Ele foi destroçado por acessos e combalido pela dor, Hulk não ousa se mover por medo de provocar mais espasmos... e, como um animal, ele se agacha de dor, punido por um motivo que não entende, enquanto vê os animais nativos saciarem sua fome. Um ressentimento desponta no Hulk. Por que podem estes animais parecidos com preguiças se banquetearem e ele não? Um deles se aproxima da árvore derrubada pelo Hulk. Hulk esboça um riso cruel. Ele vai se deleitar em ver outra criatura sofrer com os espasmos infernais abrasados pela fruta proibida.
Mas, para irritação do golias verde, a criatura não apenas come a fruta caída, mas também aparenta imensa satisfação. A visão de outro comendo, isento, a fruta venenosa é demais para ser tolerada. Hulk está faminto em meio a uma pastagem abundante, e sua fome o consome, mais abrasadora que o próprio veneno. Ele vai matar sua fome... e matará agora!
O berro irrompe na quietude da floresta tropical, absolutamente selvagem, aterradoramente primitivo. Então, tendo finalmente imposto seu desejo neste parte remota do mundo extraterrestre, o Hulk se prepara para se alimentar. Ele hesita. A lembrança da fruta envenenada ainda é viva. Mas, se quiser sobreviver, ele terá de comer.
O sabor da carne inunda seu organismo faminto de força. Rosnando, ele desmembra o animal... então, a dor começa. O Hulk sabe que mesmo toda sua força é inútil contra o fogo que invade suas entranhas. E o infeliz gigante fica tão possuído pelos espasmos que não nota... que a coluna espinhal da criatura que matou se destacou da carcaça e agora se ergue atrás dele. Mas, súbita e surpreendentemente... a dor do veneno PASSA.
A dor passa para ser substituída por uma sensação de saciedade, como se sua fome tivesse sido satisfeita. Hulk não entende, num momento seu corpo estava em fogo, e agora seu apetite é aplacado. Uma nova sensação envolve o gigante de jade. Uma sensação agradável, como ele eletricidade percorrendo de alto a baixo sua espinha. Curioso, ele vira para ver o que está causando aquela sensação de formigamento. Sim, a dor passou...
...mas um novo pesadelo tem início! A coluna espinhal contorcida se afixa no pescoço do Hulk, ficando suas presas pontiagudas. Apesar de não sentir, o Hulk se sacode... e se joga contra as altas árvores, numa tentativa de desalojar aquela coisa em forma de serpente. Mas os gritos e os golpes de nada adiantam.
Então, embora nenhum som tenha sido emitido, a espinha "fala" na mente do Hulk... Hulk grunhe. ele não percebe que é a espinha que fala, nem entende as palavras... mas instintivamente entende que está sendo ordenado a comer... e isso é exatamente o que ele está tentando fazer desde que chegou a este planeta! O sumo da fruta proibida flui garganta abaixo, doce como mel. Por entre rosnados guturais, o golias verde se empaturra.
E, cantando uma estranha melodia muda na mente do Hulk, a criatura espinhal explica... esta é A HISTÓRIA DA ESPINHA, transmitida através da ligação entre a mente do alienígena e a do Hulk... no começo, havia apenas a noite e o mar remoto! Da sopa orgânica deste mar, incontáveis eras atrás, saíram os primeiros de sua espécie! Por que eles abandonaram as águas onde nadavam velozes e seguros, nós nunca saberemos! Talvez desejassem MAIS da vida! Ou talvez desejassem saber como seria erguer-se alto... e contemplar o céu'
Mas é difícil aspirar à grandeza quando a anatomia os acorrentam a uma existência rastejante! Eles estacionaram neste nível evolucionário quando as chuvas pararam e o sol passou a brilhar... eles assistiram a flora desabrochar e a fauna surgir na superfície de seu mundo! Sim, surgir e ANDAR... como nunca puderam! Eles invejavam a vida animal em sua volta, pois, embora desprovidos de razão, os animais possuíam a MOBILIDADE! Então, as marés do tempo se modificaram novamente! O sol, que deu vida, a retirou num esplendor de radiação letal! As flores murcharam, as frutas pretejaram, e os animais que delas se alimentavam certamente teriam morrido... se a raça dos espinhos não tivessem descoberto o que iria alterar o curso da existência em seu mundo! A fonte de alimento de sua espécie, os LINQUENS, foram extintos pela radiação! Então, eles tentaram se alimentar de animais moribundos... os animais ficavam imóveis o bastante para os espinhos se fixarem a eles! Uma RELAÇÃO SIMBIÓTICA foi forjada! Biologicamente, os espinhos rejeitavam as toxinas em sua comida... tendo a mobilidade tão desejada!
Pode o cérebro bruto do Hulk imaginar a glória daquele dia? Naquela união simbiótica da espécie dos espinhos com as outras, a vida em seu planeta foi preservada! Uma balança equilibrada que durou milhões de anos! Hulk, entretanto, como as sensações que passam pela revelação de seus pensamentos, indicam que o gigante verde NÃO é deste mundo! O ato do Hulk de matar o hospedeiro do alienígena destruiu não só o relacionamento que garantia a mobilidade do espinho... mas também privou o alienígena de um amigo que ele habituou a suprir! Não adianta o Hulk se enfurecer! Ele e o espinho se tornaram apenas um! As tentativas do Hulk para separá-lo do alienígena apenas lhe causam dor! E não há necessidade! Eles são um! Sem o outro, eles morrerão! Hulk possui uma força que o espinho jamais viu em nenhum outro hospedeiro! Hulk pode carregá-lo até os confins deste mundo, para lugares onde nenhum da espécie desse espinho jamais esteve! Com o tempo, Hulk cessará de se irritar com seu relacionamento com o alienígena! E, quem sabe, Hulk poderá vê-lo... como um AMIGO!
Este é um planeta habitado por herbívoros, se todas as criaturas matarem por comida como o Hulk fez... ai existirá um mundo de formas hostis e em breve os simbiontes seriam privados de suas preciosas mobilidades.
Um tempo se passou desde que o simbionte se afixou a Hulk... e, como era previsto, o relacionamento se desenvolveu de uma forma inesperada. O simbionte sabia que o Hulk tinha capacidade para a linguagem ao descobrir rudimentos de inteligência em seu subconsciente! Hulk já foi astuto, ele não foi sempre o selvagem que é agora! O simbionte não pode ajudar o Hulk a recordar o que parece o que parece ter sido apartado de sua memória! Os poderosos músculos de suas pernas se retraem... e impulsionam o Incrível Hulk e seu companheiro para o céu.
Nenhuma criatura deste mundo chegou tão perto da camada de nuvens que esconde o céu! Felizmente, o Hulk é diferente de todas essas criaturas. Os simbiontes e os hospedeiros sempre tiveram limitados ao solo! Mas, com a força incomparável do Hulk, capaz de desafiar até a gravidade... este simbionte se sentirá apto a alcançar o infinito! O simbionte está feliz! Por ele capacitar o Hulk a se alimentar e falar. O simbionte quer que Hulk escale a montanha!
E um êxodo animal, todas as criaturas na face do planeta atravessas as planícies e se dirigem a uma projeção de rocha. O CHAMADO é uma convocação que nenhum simbionte pode rejeitar.
O simbionte despertou inteligência suficiente no Hulk para ele entender de alguma forma o diálogo mudo entre eles. Os simbiontes souberam que UM deles está comprometendo sua própria sobrevivência se unindo ao Hulk, totalmente alheio a este mundo! Esta união é suicida! O Hulk é o único de sua espécie! Ele não pode se reproduzir e certamente perecerá... e o simbionte afixado a ele terá o mesmo destino, pois todos de sua raça que permanecem muito tempo em um hospedeiro... acabam criando uma dependência... e não poderão sobreviver com outro! Mas Hulk é mais que um hospedeiro! Ele é um AMIGO!
Os simbiontes impeles seus hospedeiros para separar Hulk e seu amigo. Embora deseje que façam aquilo pelo bem do simbionte, a vontade do Hulk é anulada pela voz do amigo em sua mente...
... e o golias verde pula... e, mais uma vez, o simbionte atinge alturas inimagináveis. Para Simbi, melhor a morte, do que ser privado das maravilhas que o Hulk lhe mostrou! Melhor morrer do que estar para sempre privado do... CÉU!
Mesmo impulsionados pelo prodigioso poder do Hulk, o gigante esmeralda e seu companheiro simbionte levam quase uma semana para atravessar o planeta e alcançar os sopés das montanhas distantes. No começo, foram perseguidos pelos outros simbiontes e seus hospedeiros, mas conforme subiam mais alto, os perseguidores iam desistindo. E, assim, eles iniciam a SUBIDA. Eles escalam por dias sem fim... escalam até a monumental força do Hulk ceder... e os ventos uivantes ameaçarem varrerem os dois audaciosos encosta abaixo.
Hulk vai fazer Simbi ver o céu!
Eles atravessam a camada de nuvens que cobre o cume da montanha como uma mortalha. O frio é terrível... mesmo esse Deus de Jade tem um limite para sua incrível força... e, exausto, sem mais resistência, ele procura abrigo em uma caverna. O colosso verde dorme, recuperando suas energias para uma nova investida ao cume.
Poucas horas de sono, e seus olhos fatigados indicam que o repouso não foi suficiente. O monstro sai da caverna... e se prepara para a última investida às alturas da montanha.
Hulk se deslumbra com a incrível visão... ele quer dar ao seu amigo simbionte essa dádiva.
E então Hulk percebe... o simbionte sumiu. O peso familiar nas costas do Hulk desapareceu... o amigo de Hulk se foi. A caverna. Hulk e o simbionte estavam juntos pela última vez... na caverna. O simbionte se encontra em um canto, atrofiado como um crustáceo... quase morto.
O simbionte morre contente, Hulk solta um lamento ao céu brilhante.
O desespero pela perda do amigo aciona o feitiço no subconsciente do Hulk que o leva de volta à... ENCRUZILHADA. A memória nutrida pelo simbionte durante o curso do relacionamento mutuamente benéfico desaparece... assim como a inteligência do golias esmeralda, fazendo de Hulk um monstro novamente. Mas, sem entender por quê, há um peso em seu coração... que quase se parte pela perda de um amigo. A coletividade de esporos, telepaticamente sintonizada com o Hulk, sente o que ele não recorda. E, em vez de zombarem do gigante aturdido, os esporos se organizam... em uma cama onde Hulk pode dormir e se refazer de sua exaustão. Quando Hulk acordar, a estranha coletividade tentará convencê-lo de que o que mais deseja... é um AMIGO.
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